


Em meados de dois mil e seis, em uma noite na faculdade - uma das incontáveis noites que eu tinha de esperar horas pela chegada de meu transporte - junto ao meu notebook, me surgiu a ideia de escrever um livro. Não que eu já não escrevesse, na verdade meu notebook era "forrado" de contos e personagens, que criava por mero prazer, maior parte do tempo durante as aulas, sendo que já havia estudado música a vida inteira e todo aquele conteúdo não possuía nada de novo para atrair-me.
Algo também digno de nota, é o fato de jogar RPG de mesa desde meus treze anos ou menos, sempre sendo o "Dungeon Master", ou melhor, o narrador e criador das aventuras em que colocava meus companheiros de mesa. Criando tramas, reviravoltas, histórias e personagens que me preocupava em dar "vida". Personagens humanos com complexos sentimentos, personalidades - desde aliados à vilões -, que até hoje, quase vinte anos depois, meus amigos ainda lembram deles nas aventuras que criei, quando às vezes nem mesmo eu lembro. Isso de fato salienta, sem faltar com modéstia, que criatividade e imaginação sempre foram abundantes em minha mente e vida. Todavia, nunca havia criado algo "grande" e complexo como um livro. Mas a ideia surgiu, e meu atrevimento me instigou a colocar em prática.
Se me perguntares quais foram as influências, eu provavelmente teria de mentir, ou falar a absurda verdade: tudo. Desde quadrinhos, livros, filmes, fatos do dia-a-dia e até coisas que passam desapercebidas pela grande maioria das pessoas, como por exemplo um dia que estava dirigindo e parei no sinal ao lado de uma retroescavadeira e fiquei contemplando aquela enorme e bizarra máquina, enquanto pensava "e se um dia criassem um androide para essa função?" Algo que resultou em um personagem que talvez você já conheça ou irá conhecer.
Mas enfim, comecei a escrever partindo a seguinte ideia:
Em um futuro pós-apocalíptico, onde no passado “superseres” foram criados e despertaram após milênios. Uma ideia crua, onde a cidade que girava como centro ficava ao redor dos restos da Estátua da Liberdade, atualmente tomada de corais e musgos, depois de ter ficado embaixo d’água por milênios até finalmente a maré baixar, colocando-a novamente em terra. Livro que inicialmente batizei de “A Dama dos corais”. Mas os anos foram correndo, e embora durante muito tempo o livro ficasse em repouso, às vezes até anos sem ser escrito, a ideia nunca morreu - pelo contrário, cada vez tomava mais corpo e mais ideias surgiam, das quais eu anotava em blocos, montando linhas de tempo, bem como novos personagens, lotando cadernos e mais cadernos com anotações e ilustrações -, e depois de mais de setecentas páginas escritas, sendo mais de dois terços removidos, até capítulos e parágrafos inteiros modificados, como o próprio nome do livro e o foco, “A Dama dos Corais” acabaram sendo modificados, mas sem perder sua essência inovadora. Por fim, eu acabei criando um universo inteiro, repleto de cidades, nações, personagens com personalidade e aparências próprias, raças e enfim.... Dando vida a um futuro alternativo, com uma história e um passado inteiro, muito maior do que jamais pensei em criar. E foi assim, despretensioso, ao longo de mais de doze anos, que nasceu O MITHO."
Att. J.M.L. Joke