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CONTO I – 

"Poema de dor eterna"

 

 

 

 

“Então você quer conversar? Queres mesmo ouvir o que tenho a lhe contar?

No fundo de minha alma há apenas solidão. Sonhos atirados ao vento, em vão.

Nada passo de uma alma cujo o tempo recusa-se a parar de torturar.

Para cada desejo, cada almejo, no final, há de haver sempre um “não”.

Não há como negar, não passo de um mero reflexo, um mero borrão,

Do que poderia ser, sou um pequeno vulto, um retrato em um quadro oculto.

Um reflexo em um espelho quebrado, ainda que presente, não é notado.

Um nada, incapaz, nada mais que um erro desprezado.

Sou um vulto de tristeza e solidão, pela noite esquecido, tragado.

Capaz de amar, capaz de se doar, e mesmo por estes, ainda ignorado,

Pois não sou capaz de tocar aquilo que poderia ser alcançado.

Sou um ser feito de sonhos, ilusões e ideais, que já foi despedaçado.

Um fantasma amargurado e já desacreditado,

Que há muito, por todos já foi abandonado e logo nem será lembrado.

Sou o amor desvalorizado, o filho desdenhado, um recordar descartado,

Um sósia de mim mesmo, sem propósito, a fugir à esmo,

E nesse fugir, não sou mais do que um dia fui, um mero fingir.

Destinado a me sofrer e me ferir, sofro cada dia silenciado.

Sou um deboche da vida, uma arte de um palhaço calado,

Sou a eterna piada da vida,

Sou a tristeza de meu próprio legado.”

Perdão pelo desabafo. Memorizei esse poema há anos, e nunca pude recitá-lo. Obrigado por me ouvir. Você já deve ter ouvido meus amigos falarem de mim. Sou Maureen, é um grande prazer. Eu sou aquela chamada “Noiva Fantasma” ou mesmo “A Imortal”.

E sou aquela que inveja sua mortalidade.

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