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CONTO I –

Dividindo e conquistando!

                Meus mais cordiais cumprimentos, visitante. Chegaste até mim e estou à par de que tiveste diálogos com meus antigos companheiros de andanças e que interessa-te saber mais sobre tais fatos. De fato, notável, afinal, curiosidade é a essência do saber. Entretanto, receio não poder lhe proporcionar a mesma experiência que meus já mencionados colegas, como pode ver, lamentavelmente a interação social não é uma perícia qual detenho. Deve ter reparado que ao logo de mais de dois séculos, minhas cordas vocais atrofiaram e utilizo um dispositivo de emissão sonora para projetar minha voz. Ainda que eu possua um módulo de diálogo informal, que proporcionaria para você uma compreensão facilitada do que teria para lhe compartilhar, receio que a falta de expressão e emoções em minha emissão sonora não lhe cativaria.

               

                O que posso lhe dar ciência é de que nosso grupo, assim como todo ciclo vital, chegou ao fim. Resolvemos nos instalar em uma comunidade, protegê-la, defender uma causa e os humanos que dependem de nossa tutela. Temos novos Mithos e companheiros em nossas instalações, e como havia de ser, o que você entende por passado, já não existe mais. Porém, embora este seja o final da história - oh, corrijo, afinal nossa história ainda está sendo escrita dia a dia -, creio que você está ciente de que o Garra, o LeeRoy, o Granada e o Belker tiveram seus ciclos vitais encerrados. E este talvez seja o que você definiria como o “fim da história”. Como já lhe informei, eu não sou o indivíduo mais apropriado para tal feito, contudo, saiba que assim como utilizo dispositivos sonoros, também me valho de semelhantes utensílios para ter o que você define por audição, porém tudo que capto fica armazenado em um chip em meu capacete. Então, posso reproduzir para você as histórias que eles me contaram, e você poderá ouvir narrado diretamente por eles da forma que eles me passaram; como o Belker faleceu e como o Sr. Granada também encontrou o seu fim. Quanto ao oblívio do Sr. LeeRoy, eu não possuo registros detalhados. Talvez outro dia devesse conversar com Natalie, que estava presente na ocasião.

Pois bem, deixe-me ativar o módulo de reprodução para que ouça o primeiro relato, do Sr. LeeRoy. Ressalto que minhas emissões sonoras não são armazenadas, então terá de deduzir as respostas que provi a ele, além disso irei pular a gravação apenas para as partes relevantes, espero que compreenda:

                “ – Doutor! Que bom te achar. Tenho notícias incríveis que o senhor nem vai acreditar. Então, o senhor tá sabendo que essa droga de Matilha tá nos dando um pu... uma tremenda dor de cabeça né? Pois é, a gente conseguiu contar, são nove ‘cachorros’, esses ‘filhas da mãe.” 

 

                    Segundo relato, três dias, nove horas e trinta e seis minutos após o anterior, LeeRoy:

 

“ – Doutor! Cê não vai- o senhor não vai acreditar! Bom, talvez vá... Preciso de uns reparos. Mas sério! BAIXAMOS UM DOS ‘CACHORROS!’ Então... Foi assim: Estávamos eu e o Granada...

– Certo, Granada e eu estávamos na mata colhendo suprimentos, frutas, água, e andando nos arredores, embora já estivéssemos além do manguezal de espinhos, muito próximos à cidade do sacana lá. Eu avisei o Granada que seria perigoso, mas o senhor sabe...

– Pois é, o Belker despachou a matilha atrás de nós. Mas o senhor conhece o Granada. Ele estava em cima de uma árvore e já conseguiu ver de longe quando os animais partiram da cidade. Começamos a correr, largamos os mantimentos e tentamos fugir, mas dessa vez eles não pararam no limite costumeiro, eles continuaram vindo.

Eu nem pensei, desculpe Doutor, mas eu ia ferrar tudo, foi o Granada que me disse que não deveríamos voltar pra cidade, que dessa vez eles nos seguiriam e nos massacrariam.

– A gente tava correndo...

– Ok, Doutor, ‘Nós estávamos correndo’, mas deixa eu continuar, por favor! E o Granada ficava pra trás o tempo todo. Normalmente ele corre por sobre as árvores, dando as ‘piruletas’ dele no ar e ganhando muito mais velocidade que eu, mas percebi que ele ficava o tempo todo parando e observando. O que me deixava num estado de nervos de cag... Sujar as calças de ferro.

– Hahah! Foi quando o safado do granada falou:

‘Viu o mais novo da matilha? Ele está sempre correndo à frente dos outros. Ele é o mais ágil deles. É o tal de Ômega. Eu tenho uma ideia! Se der errado, diga à Rosie que eu me importo.’ – Ele disse. Essa história de ‘diga à Rosie’ é uma piada nossa, o senhor não entenderia.

 

                Então ele parou. Tirou um frasco da mochila e traçou um semicírculo no chão, acendeu um cigarro e sentou no meio do semicírculo, de frente pra onde a matilha vinha, me olhando e sorrindo. Eu pensei que ele tinha pirado de vez. Nem fumar ele fuma! Eu parei do lado dele, a gente fez uma jura sabe? Ninguém fica pra trás. Se o imbecil do meu amigo pirou, eu iria morrer com ele.

Foi logo nessa hora que o tal Ômega entrou na área, parando surpreso, dando de frente conosco. Então o Granada abriu um sorrisão pra mim e usando o indicador e o médio junto com o polegar que seguravam o cigarro, atirou ele exatamente no líquido que ele havia traçado o semicírculo, fazendo chamas enormes se erguerem.

‘Dividir e conquistar. – Ele me disse – É todo seu, grandão!’

                   Na hora nem hesitei, com as duas mãos fechadas larguei um murro na cabeça do cachorrão desgramado, que tava surpreso e apavorado olhando pro fogo, e descuidou de nós. Ele conseguiu levantar e me desferir alguns golpes de garras, me danificando um pouco como o senhor pode ver. Mas fiz patê do desgraçado.

Apressei o Granada para fugirmos logo, mas de novo, ele atento à tudo, ficou parado olhando.

             

            Os outros ‘Cachorros’ estavam todos do outro lado do fogo, mas eles pareciam desatinados. Se batendo, olhando ao redor, desviando o olhar do fogo e espirrando com a fumaça preta. Eu disse: ‘Parece que eles não conseguem nos ver.’ Então o Granada respondeu:

              ‘Eles não estão nos vendo. Hehe. Os idiotas possuem apenas visão de calor. Por isso eles nunca perdiam nosso rastro quando nos caçavam. Por isso não adiantava se esconder. E a outra ‘arma’ deles é o olfato. Nos perseguiam pelo cheiro. O fogo e a fumaça conseguem ‘cegar’ eles por completo! Hahaha!’

 

            Então contamos pro Águia. E organizamos várias pilhas de feno e madeiras verdes que queimam soltando muita fumaça. Sempre podemos ir, que na volta, se estiverem na nossa cola, é só acender o fogo. Assim sempre estaremos protegidos deles.

Não, Doutor. Agradeça ao Granada.”

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